Orixás e seus filhos

Alguns Orixás mais conhecidos no Brasil.


Ewá
Sincretismo | Santa Luzia |
Dia da semana | Sábado |
Elementos | Céu rosado, Astros, Estrelas, Mata virgem e Ilhas |
Domínios | Vidência e Criatividade |
Cores | Variações do Rosa |
Plantas e ervas | Cana do Brejo, Barba de São Pedro, Alface d'água (erva de Santa Luzia), dentre outras |

Ewá ou Yewá, é uma bela virgem que não resistiu aos encantos do Rei Xangô e entregou seu jovem e belo corpo a ele. Oya ou Yansã, esposa de Xangô, despertou-se em grande fúria através da força de suas ventanias, assustando a bela Ewá. Essa, com receio da vingança de Yansã, refugiou-se na parte mais profunda e nunca explorada das matas de Oxossi, que a recebeu de braços abertos.
Estes fatos fazem com que Ewá seja a protetora das virgens, dos mistérios, da vidência e dos lugares inexplorados.
Sua origem e tantas outras informações são muito instáveis na literatura, pois foi cultuada em nações diferentes, ocasionando assim muita divergência nas informações. Longe da precisão, historiadores, filósofos e pesquisadores concernem seus entendimentos em vivências traduzidas pelo dia a dia de Babalorixás e Ialorixás que lhes fornecem dados para que possam se apoiar em alguma "corrente" histórica.

Características dos filhos(as) de Santo de Ewá

Muitas das vezes confundem um(a) filho(a) de Ewá com pessoas de personalidade frágil, facilmente influenciadas por outras pessoas. Em meu entendimento, a característica que gera essa confusão é a inocência. Como as belas jovens virgens, preza pela vaidade. A vaidade mais pura que a de Oxum, doce e angelical. É feminina e delicada. Vive como uma eterna menina, tendo dificuldades em aceitar as responsabilidades da vida adulta. Estão sempre criando situações para receberem elogios, pois é esta sua predileção.

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Exú
Dia da semana | Segunda-feira |
Elementos | Terra e Fogo |
Domínios | Elementos terrenos, humanos e materiais |
Cores | Preto e vermelho |
Plantas e ervas | Maioria das plantas com espinhos, Cajueiro, Cana de Açúcar, Catingueira, Mangueira, Folha de Bananeira, Palmeira Africana, dentre outras  |



Exú, Esù ou Bará é o Orixá mais polêmico do panteão africano. Erroneamente identificado como Lúcifer ou outros demônios como Mara, o demônio que tentou o príncipe Sidharta (o jovem Buda), Amon (Egito Antigo), Abyzou (Mitologia Judaica) Daeva (Mitologia Persa), dentre outros. Em todos estes casos o arquétipo colaborativo para a nossa imaginação figurativa é a do anjo caído, do espírito sem luz, do senhor dos infernos, do responsável pela tentação, sem escrúpulos e sem valores ou princípios morais.
Esta equivocada relação faz com que os leigos tenham muito receio desta figura tão importante nos preceitos do Candomblé. O temem, como algo ou alguém ruim, que realiza maldades das mais perversas.
O mais importante a se entender é que o mau está em qualquer lugar. Na minha e sua existência. Em nossos atos, desejos e pensamentos. Somos nós os percussores e mantenedores deste mau que assola os dias de hoje. Bará está conosco, assim com os outros Orixás, para nos defender. São nossas próprias energias fecundadas à natureza; as quais nos fazem responsáveis pelos nossos próprios atos e suas consequências.
Bará (ou Legbará quando se trata de Orixá feminino), rege o que é terreno, humano e material (ver lenda de Exu neste mesmo blog). Ele é o guardião do Ylê (casa de Candomblé), nosso protetor e fiel amante. Não mede esforços para realizar os pedidos e os desejos de seus filhos. Está aí então a boa reflexão sobre o nosso livre arbítrio na escolha de nossos pedidos.
Ele é o Orixá que nos viabiliza o aprendizado com os erros humanos, incitando nossa evolução a nos conduzir para as escolhas corretas. Se os erros humanos; se a inveja, o ego, a vaidade, a avareza e tantas outras premissas terrenas não nos tentassem ao erro, não teríamos como evitá-las. O aprendizado deste bom uso do livre arbítrio que nos foi dado está no domínio deste Orixá.
Ele tem o Axé (a benção) sobre a sexualidade, o dinheiro e o relacionamento humano.

Características dos filhos(as) de Santo de Bará e Legbará

Mais comum do que se imagina, Bará e Legbará são donos do Ori de muitos filhos(as). A determinação, a sorte, sexualidade, sagacidade, persuasão e inteligência são elementos muito presentes em seus filhos(as). O mais interessante a se observar é que estes podem ser classificados tanto como qualidades ou defeitos, depende de como são utilizados. Por se tratarem de traços muito poderosos na vida terrena, deixando a estes filhos(as) grande responsabilidade de saber usá-los. A orientação espiritual é quase que obrigatória a quem carrega este arquétipo, pois a tentação da facilidade em lidar com questões materiais e terrenas pode ofuscar a necessidade de entendimento em cuidar e regar o que nos é mais precioso: nosso aprendizado e crescimento espiritual.

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Iansã
Sincretismo | Santa Bárbara |
Dia da semana | Quarta-feira |
Elementos | Ar em movimento e Coral Fogo |
Domínios | Ventania, tempestade e contato com os mortos |
Cor | Vermelho coral |
Plantas e ervas | Bambu, Cravo da Índia, Eucalipto-Limão, Flamboiant, Gengibre, Hortelã, Manjericão Roxo, dentre outras |

Iansã, Yansã ou Oya é um dos Orixás femininos mais populares no Brasil. Centenas são as lendas com seu nome, explicando suas diferentes e inúmeras características. Esposa de Xangô, (verificar esta e outras lendas de Iansã neste mesmo blog) é com ele que adquire seus principais traços e forças naturais. Compartilham a tempestade, mas a dividem com exatidão. Fundem-se, mas são patronos de cada elemento separadamente. Xangô é o senhor dos raios, ela dos trovões e vento. 
É com Ogum, guerreiro do reino de Xangô, que sai para as batalhas. Lado a lado com o imponente e charmoso Ogum, não consegue brandar a força da paixão. Passa a viver com Ogum então a mais forte das paixões do panteão africano. 
Em uma de suas qualidades, (lenda de Yansã de Balè) obtém o domínio de se comunicar com os mortos (Eguns). Muito popular e intensa, possui inúmeras quizilas (dificuldades de relacionamento, confusões) com diversos Orixás.

Características dos filhos(as) de Iansã

Guerreira, lutadora incansável e completamente extrovertida são as características básicas de Iansã e de todas as suas "qualidades" de Santo. Este Orixá é dono do Ori, geralmente, de mulheres. Estas filhas de alegria contagiante tem na outra extremidade de sua dualidade a cólera. É melhor não a provocarem em seus valores morais e muito menos com seus filhos. Com um estereótipo mais masculino do que os outros Orixás femininos no que se diz respeito ao modo de ser, é em contrapartida, feminina como poucas em sua aparência, despertando grande rivalidade com Oxum, com quem possui grandes quizilas; exceto Oxum Apará (observar o fato na lenda destes dois Orixás femininos neste mesmo blog).
Grande amante e excelente parceira sexual, a sensualidade das filhas de Iansã é a grande arma que possui tanto para a conquista de vários amores durante a vida ou a manutenção de um grande amor pela eternidade. Fiel às suas paixões e aventureira, não consegue contentar-se com o morno. Suas conquistas são grandiosas, assim como suas derrotas desastrosas. A dramaticidade intensa da vida da filha de Iansã a torna vulnerável e as vezes ingênua. 
Assim como para todos os outros Orixás, as diferentes "qualidades de santo" possuem características diferentes, refletindo assim às suas filhas este mesmo temperamento, mas estas são as mais visíveis em qualquer uma destas qualidades.


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Ibeji
Sincretismo | Santos Cosme e Damião |
Dia da semana |Domingo e Segunda-feira|
Elementos | Ar |
Domínios | Felicidade e ingenuidade |
Cores | Todas as cores em conjunto ou rosa, azul e verde separadamente |
Plantas e ervas | Jasmim, Alecrim, Maçã e Rosa, dentre outras |



Ibeji, Ìbejì ou Ìgbejì não chega a ser considerado, na maioria das nações africanas, como Orixá, mas sim, uma divindade. Na verdade, duas divindades gêmeas infantis. Porém, no Brasil, com a junção de várias lendas e crenças distintas destas nações sobre essas duas crianças, tornaram-se, para alguns Babalorixás, Ialorixás e historiadores, como um único Orixá.
Adotando esta corrente histórica, prezo por salientar que Ibeji não é o mesmo que Erê. Esta confusão se faz pelo fato de que os Erês são as energias infantis, representadas através das crianças. Como Ibeji é representado por duas crianças gêmeas é extremamente comum o equívoco desta interpretação.
São muitas as lendas relacionadas a este Orixá, pois como já mencionado, eram muitas as nações que o cultuavam no panteão africano e assim, cada uma delas tinha a crença em uma lenda diferente.
Uma das mais populares diz que os gêmeos são filhos de Iansã e Xangô. Um dos filhos morre ainda pequeno. A mãe, inconformada com a tragédia, esculpe um boneco em madeira e o coloca em um lugar sagrado de sua casa. Todos os dias  o alimenta, o veste e lhe faz companhia. Agindo como se ainda estivesse vivo e depois de tanto choro, Olorum (Deus) sente pena de Iansã e devolve a vida ao seu filho.
Ibeji representa a felicidade, alegria pura e infantil. Não a gargalhada de Exú, mas o sorriso gostoso.
É Ibeji que acompanha a criança desde seu nascimento até sua transição (momento em que o Oríxá toma o  Ori da criança. Isso ocorre entre seis e oito anos do (a) menino (a)).
Em conjunto de Oxum (mãe da criança durante o desenvolvimento "Sensório-Motor"), zela pela criança de todas as situações energéticas e espirituais. Ibeji tem o poder de desfazer qualquer coisa feita pelos outros Orixás, assim como o que é realizado por ele, não pode ser desfeito. Por isso às crianças não se realiza nenhuma obrigação.  

Características dos filhos(as) de Santo de Ibeji

As pessoas que trazem este Orixá como o dono de seu Ori são extremamente felizes. Brincalhonas e repletas de energia, são capazes de alegrar qualquer ambiente e estarão sempre fazendo de tudo para chamar a atenção. Na maioria das vezes, quando as coisas não são feitas a seu gosto, tornam-se pessoas emburradas e mostram-se muito caprichosas. Deixam sempre viva a criança dentro de si, tendo muita dificuldade para lidar com seus problemas e responsabilidade. Carentes, chegam a se tornar muito ciumentos e até possessivos.


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Iroko
Sincretismo | Não há |
Dia da semana | Terça-feira |
Elementos | Ar |
Domínios | Tempo |
Cores | Branco, Verde e Cinza |
Plantas e ervas | Iroko, Gameleira Branca, Figueira Brava, dentre outras |

Iroko, Ìrokò, Iroco ou Roko é o senhor do tempo. Este Orixá foi o único a não ser sincretizado pela Igreja Católica. O fato ocorre porque este, além de raro, é cultuado somente em sua morada (árvore Iroko ou outras em sua ausência). Como o sincretismo foi sendo assimilado pelas "oferendas" dos escravos às imagens no interior das igrejas, não foi possível essa assimilação de Iroko ao arquétipo de nenhum santo católico.
Sendo um Orixá muito antigo e valioso no contexto lendário do Candomblé, tem referências em diversas religiões antigas, como por exemplo o deus Chacal no Egito Antigo: Anúbis. A religião egípcia faraônica tinha grande similaridade com o Candomblé, que inclusive era cultuado em várias regiões próximas. A filosofia dogmática é extremamente parecida. As forças da natureza regem os seus deuses, que são responsáveis por controlar as diferentes forças. Neste caso, Anúbis (Iroko) é o deus responsável por guiar o tempo do filho em vida até a entrega à deusa Maat. Esta deusa é quem abrirá ou não a porta da eternidade aquele que desencarna. Ela carrega sua Chave da Vida (Ahnk) e destina-se a ser justa em decidir se permite a entrada do espírito à vida eterna ou não, junto de Anúbis. Se Anúbis lhe informa que este não cumpriu seu Karma, não foi coerente com os princípios e valores de seu livre arbítrio, então ela não atenderá o pedido do desencarnado em viver eternamente na luz espiritual da outra vida. Caso seja autorizada sua entrada, é Anúbis (Iroko) que leva o filho pelo caminho do Vale da Morte à luz da vida eterna.
Em outras antigas religiões, Iroko também é cultuado como o senhor do tempo e "fiscalizador" do cumprimento de seu Karma. Entre os Incas e os Maias é o senhor do início e fim. Na mitologia grega e romana, era representado por Cronus, senhor do tempo e do espaço.
Este tempo e espaço, início e fim que representa Iroko, é a brevidade desta vida encarnada. É ele quem nos impõe o cumprimento de nosso Karma. A isto, nenhum outro Orixá consegue se impor. Ele é também representante de todos os espíritos dos nossos antepassados. Avós, pais, etc.
É muito raro encontrar filhos deste Orixá tanto no Brasil como em Portugal (onde é mais cultuado).
  
Características dos filhos(as) de Santo de Iroko

Seus filhos são dotados de um senso de justiça diferente dos de Xangô. Enquanto Xangô é extremista à justiça, doa a quem doer, Iroko observa a justiça absolutamente individual, ou seja, preza muito pela subjetividade do individuo. Se o cumprimento do Karma do indivíduo é concluído, há de ser merecedor de seus créditos (Darma). Isso reflete na ausência de comparações para o senso crítico de justiça desses filhos. Esses nunca dirão algo como "fulano está certo e você errado", mas sim, estarão sempre dizendo "vejamos o que você fez, por que fez isso?". São pontos de análise completamente diferentes, embora estejam muito próximos. Extremamente inteligentes e sábios, carregam o perfil psicológico daquele que mais ouve do que fala, pois em muitas das vezes já conhece o final da história contada. Apesar de também ser ranzinza, distingue-se da figura de Oxalufã por ser mais extrovertido e festivo.

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Logunedé
Sincretismo | Santo Expedito |
Dia da semana | Quinta-feira |
Elementos | Floresta e Água doce |
Domínios | Riqueza e fartura |
Cores | Azul turquesa, verde e amarelo ouro |
Plantas e ervas | As mesmas de Oxum e Oxossi |


Logunedé, Logun Edé ou Lógunèdè. Este Orixá de sexo masculino causa muita polêmica entre os leigos e até mesmo os iniciados no Candomblé. Isso ocorre porque a nação de Ketu, cujo Logunedé era muito cultuado, foi dizimada na época da escravidão do Brasil. Os negros que aqui foram vendidos, trouxeram suas lendas e crenças que foram disseminadas, porém, não há muitos registros na África para que se possa consultar diretamente a fonte de nascimento das lendas deste Orixá. Assim sendo, muitas especulações foram criadas, aumentando-se e distorcendo-se os "pontos nos contos".
Logunedé é filho de Oxossi e Oxum. Mais precisamente, Odé Erienlé (qualidade de Oxossi) e Oxum Yeyé Ipondá. (Qualidade de Oxum). Ao contrário do que se especula, ele não possui dois sexos. A lenda mais precisa é a de que Oxossi, seu pai, criou grande amor pelo filho e desejou levá-lo consigo para as matas, afim de lhe ensinar os segredos da caça. Sua mãe, Oxum, também se encantou com a beleza do filho e pleiteou pelo direito de lhe ensinar seus segredos contidos nas águas doces. Então, decidiram que Logunedé passaria seis meses na mata com Oxossi e seis meses nas águas de Oxum.
Logunedé é um misto de qualidades e defeitos de seus pais, mas como todo e qualquer filho, possui sua própria personalidade. Neste caso, a dualidade. Está presente, ao mesmo tempo, nos mistérios das matas e na profundidade e beleza das águas doces.
  
Características dos(as) filhos(as) de Santo de Logunedé

Na maioria das vezes, quem carrega a paternidade deste Orixá é confundido como filho(a) de Oxum ou de Oxóssi, pois como já é sabido, a junção de qualidades e defeitos destes dois Orixás estará muito visível na pessoa que tem como dono do seu Ori, Logunedé.
A beleza e charme da mãe, a força e destreza do pai. A doce persuasão de Oxum aliada a perspicácia de Oxossi. Enquanto seu sorriso herdado da bela Orixá encanta suas presas, ataca com a flecha única e certeira de Odé que aprendeu a manusear.
Sua maior dificuldade é conseguir atingir o equilíbrio com tantas qualidades. Muito conhecimento generalizado desencadeia o fato de pouca profundidade em suas virtudes.
Estes(as) filhos(as) são muito indecisos e inconstantes no humor.
Devem estar sempre atentos a não deixar que o Ego os domine, evitando assim que se tornem pessoas muito egocêntricas e prepotentes.

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Nanã
Sincretismo | Santa Ana |
Dia da semana | Terça-feira |
Elementos | Terra fofa e pântanos (água + terra) |
Domínios | Maternidade na vida após a morte |
Cores | Roxo e suas variações |
Plantas e ervas | Agapanto, Avenca, Cedrinho, Manacá, Quaresmeira, dentre outras |



Nanã ou Nanã Burukú é o nome deste Orixá feminino de tamanha importância na história do Candomblé. É a base da formação do panteão Africano. É o primeiro Orixá feminino, mãe dos Orixás das nações mais antigas, como Iroko, Omulu-Obaluiyaê e Oxumarê, sendo o pai destes, Oxalá.
Há muitas controvérsias e preconceitos a estes assuntos tratados neste tópico, porém, entendo que embora esses assuntos a serem tratados a seguir sejam ainda grandes tabus no Candomblé; é nossa obrigação, filhos desta filosofia religiosa, dos iniciados aos Babás, transgredir os preconceitos e tabus de uma tradição tão antiga. Este ensejo não é o de desrespeitar, mas sim, saber distinguir os valores sociais dos dogmáticos.
O primeiro grande tabu a ser tratado é a morte. Embora seja uma religião espírita, crente na reencarnação e na evolução espiritual, há grandes receios quanto à transição deste espírito desencarnado. Isto acontece porque nas nações mais antigas, Nanã possuía o conhecimento e o poder de controlar os eguns e egunguns, inclusive a seu favor. O mistério e medo que ela gerava era tão intenso quanto os demônios em outras religiões. Havia neste período a punição. Era ela, Nanã, quem podia punir por poder demandar energias negativas e sem luz à pessoa ou até mesmo aos Orixás, ou ainda, que não lhe entregasse à vida eterna. Muito próxima à deusa egípcia Maat, (leia sobre Iroko neste mesmo blog) é corrompida pelo amor à Oxalá, que a seduz proposidatadamente para que possa conhecer e "furtar" seu domínio sobre os mortos. Com este fato, o Orixá masculino livra o pecado feminino que induzia o Candomblé ao erro: a punição. Segundo os grandes pesquisadores do Candomblé, esta é uma fase onde em meio a tantas guerras entre as nações do panteão africano, nações machistas apoderaram-se da supremacia feminina. Principalmente porque até este momento Nanã era considerada a grande divindade. Chegava a ser considerada pai e mãe, sendo tratada como dois Orixás em um só, causando o entendimento de uma supremacia hierárquica aos outros cultos.
Depois desta fase de mudanças, Nanã continuou carregando muita força e popularidade, porém, nesta época, outras duas mães passam a ser cultuadas: Oxum e Yemanjá, tirando de vez a força mitológica da primeira mãe no panteão. Ela passa a ter a imagem que temos hoje: a de avó.
Com esta escala evolutiva das lendas e a homogenização dos cultuados, Nanã (assim como aconteceu com todos os outros Orixás) passa a ter seu lugar definido, porém, os tabus originados de suas antigas lendas permaneceram. A vida após a morte é entendida no Candomblé como uma grande conquista. É lá que nossos espíritos preparam-se novamente para a encarnação e assim, a continuação de nossas evoluções. Não é esta a parte do tabu, mas sim, como é que chegamos do outro lado. Hoje, sem nenhum caráter punitivo, Nanã é a mãe que nos acolhe e abraça. É ela que nos protege de espíritos sem luz nessa transição. Muito mais próximo de outras religiões espíritas, hoje entendemos que se a pessoa está carregada de eguns ou egunguns (obsessores) e não consegue obter ajuda de Nanã, não é pela avaliação e peso de justiça dela, mas sim, pelo uso equivocado de seu próprio livre arbítrio, que lhe fez entrar em sintonias negativas de energia, permitindo assim, a proximidade destes espíritos sem luz a alimentarem-se da luz que esta pessoa carrega ou carregava.
A velha Nanã toma seu lugar na lama e no barro da criação. É no pântano que ela rege. Continua com o papel da grande mãe, pois se é na outra vida que temos a noção de que esta que vivemos é uma pequena passagem, entendemos então que ela nos guarda na parte mais importante de nossa espiritualidade.

Características dos(as) filhos(as) de Santo de Nanã Burukú

Estes(as) são dotados de características contidas nos estereótipos da velha avó da família matriarca. Não aceitam a evolução das coisas materiais como a tecnológica, por exemplo. Muito ranzinza, não aceita críticas e nem mesmo conselhos dos mais novos. Falta a paciência a esses(as) filhos(as). Tratam da morte com muita tranquilidade e em algumas vezes possuem a mediunidade da clarividência (espiritismo de Kardec). 
Extremamente afetuosos(as) com crianças, os(as) filhos(as) de Nanã assemelham-se à avó que tudo faz aos netos, não se importando com os parâmetros de educação estabelecidos pelos pais, afinal de contas, é a avó que já foi mãe e muito educou. Esta responsabilidade agora é de Yemanjá, mãe dos filhos crescidos (ver explicação de Yemanjá, Ibeji e Oxum).
Geralmente mal-humorados, estes filhos não tendem à simpatia. 
Por mais que pareça que os filhos de Nanã só carreguem defeitos, não é a realidade. Eles carregam a sabedoria, a espiritualidade e a doçura da avó consigo. São calmos e dificilmente se sentem acuados. Embora tenham a impaciência nas questões triviais referentes à sociabilização, possuem esta paciência em demasia para soluções de problemas, sejam seus ou de outras pessoas. 
Conhecendo muito bem este Orixá e sabendo lidar com seus defeitos, ou ainda, tendo diversas compensações pelo seu ajuntó, poderão utilizar esta grande sabedoria em prol de si e da humanidade!  


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Obá
Sincretismo | Santa Joana d'Arc |
Dia da semana | Quarta-feira |
Elementos | Água revolta (doce) e fogo |
Domínios | Bravura e destemor, audácia e sucesso profissional |
Cores | Marrom raiado e cobre |
Plantas e ervas | As mesmas de Iansã |

Novamente nos deparamos com inúmeras divergências ocasionadas por lendas e cultos em mais de uma nação. Obá, em outras nações também é chamada de Katambá e Obá Nani.
As poucas informações e até mesmo a dificuldade em concernir suas origens e atuações nas lendas africanas faz com que o conhecimento e entendimento sobre este Orixá seja bastante tumultuado.
Há duas correntes históricas diferentes que iniciam essa inquietude. Alguns grandes historiadores, Babalorixás e Ialorixás consideram Obá como a qualidade mais velha do arquétipo de Iansá. Outros tantos e não menores, consideram Obá um outro Orixá e é esta segunda corrente que me pertence.
Embora pareçam ideias completamente diferentes, na minha opinião, se fundem. Obá possui inúmeras características próximas e até mesmo idênticas de Iansã. Até mesmo algumas lendas são trocadas, permeadas e entrelaçadas entre esses dois Orixás femininos. Daí a premissa desta fusão.
Apenas me apoiando nos preceitos culturais e não religiosos, trago à tona os três casamentos do rei Xangô: Iansã, Oxum e Obá. Entendo que essa distinção seja o grande trunfo a se apoiar, vez que todas as lendas antigas, de várias nações, citam, além de Oxum; Iansã e Obá como esposas distintas. Há quem diga que poderia perfeitamente ocorrer essa mesma citação sendo Obá uma qualidade de Iansã, vez que estaria sendo nomeada pela terminação da qualidade de Santo e não pelo nome de Orixá. Minha percepção é de que neste âmbito histórico, no velho panteão africano, todo contexto de transmissão cultural era arraigado das precisas terminologias. Nunca se viu uma lenda sobre Oxalufã ser repassada utilizando "Oxalá", por exemplo. Ou ainda, a lenda sobre Oxum Apará e Iansã ser generalizada à Oxum e Iansã. Esta situação de Oxum Apará e Iansã (ver lenda neste mesmo blog) é um excelente exemplo. Oxum Apará é uma qualidade guerreira de Oxum, a doce moça que não gosta de guerras. Essa diferença, por menor que seja, se faz muito necessária para sua distinção com as outras qualidades deste Orixá.
Assegurando-me neste raciocínio é que ouso dizer que teremos então dois Orixás femininos diferentes, com características muito próximas: Obá e Iansã. Desta afirmação estende-se também a um outro entendimento: de que são Orixás gêmeas.
Enquanto há o entendimento das duas serem o mesmo Orixá (como mencionado, qualidades diferentes), a lenda da orelha de Obá (ver lenda de Iansã e Oxum neste mesmo blog) funde-se como sendo também de Iansã, principiando e justificando a quizila de Oxum e Iansã.
Disto, entendamos então que Obá é outra guerreira. Na verdade a maior guerreira de todos os Orixás. É ela que forja as armas, até mesmo de Ogum, ensina a arte bélica a todos os Orixás que se utilizam dela e inclusive, depois os derrota. O único Orixá que não foi derrotado por ela foi o maior guerreiro do panteão. O astuto Ogum, daí surge a tão falada desavença entre ela, Obá e o guerreiro Ogum (leia a descrição de Ogum).
Obá tem também o maior de todos os amores do panteão. O amor mais intenso e sofrido. A cólera mais dolorida e o ciúme mais doentio. Com isso, é tida como guardiã das mulheres em geral, dos sentimentos e sofrimentos femininos relacionados ao amor.
  
Características das filhas de Santo de Obá

Ciúme, coragem exacerbada e teimosia são os pilares principais das características dessas filhas. Incansáveis, lutam por tudo que aos outros parece impossível. Amores platônicos, causas perdidas, sonhos inalcançáveis.
Muito possessivas também. Com essas informações podemos deduzir o porquê das filhas de Obá, geralmente, não terem muita sorte no amor. Sendo assim, acabam canalizando suas fontes de energia à carreira profissional, tendo grande sucesso na maioria das vezes.
Muito difícil adquirirem novas amizades, já que sua sinceridade desenfreada assusta e magoa as pessoas, porém, aqueles que conseguem entregar sua amizade a uma filha de Obá, encontrará uma grande amiga, fiel e extremamente companheira.   

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Ogum
Sincretismo | São Jorge |
Dia da semana | Terça -feira |
Elementos | Terra (estradas e caminhos em quaisquer lugares) |
Domínios | Persistência, coragem e determinação |
Cores | Azul escuro e algumas tonalidades do verde |
Plantas e ervas | Agrião, Limão Bravo, Espada de São Jorge, Lança de São Jorge, dentre outras |


Ogum ou Ogí é irmão de Exú e Oxossi. Certamente o Orixá masculino mais popular no Brasil.O lendário e implacável guerreiro, grande parceiro de Exú, tem grande estima também no panteão africano.
O guerreiro é um Orixá novo, pois inicia sua participação com a advento do ferro e sua forja. Essa visão o coloca em uma posição também de protetor da inovação, do progresso tecnológico e industrial. Também como senhor da guerra (não só pela valentia, mas também pela estratégia bélica), ganha muita popularidade por suas vitórias, principalmente contra Obá, a grande guerreira. Esta havia vencido, exceto Ogum,  todos os outros grandes guerreiros do panteão. Quando Ogum foi desafiado, estudou minunciosamente a inimiga e estrategicamente preparou um amalá de quiabo que deixou no chão, perto de onde guerreariam. Durante a luta, levou a grande Obá a este local, que escorregou. Quando caiu, o jovem guerreiro a possuiu, sendo seu primeiro marido.
Esta resumida lenda fala muito deste Orixá. Amante do sexo e o mais desejado dentre todos os outros; astuto e valente, é absolutamente compreensível que seu arquétipo tenha ganhado tanta popularidade.
É muito conhecido por abrir os caminhos, sejam eles quais forem. Na mata, na água, no céu. Ele cria estradas novas e protege os filhos nos caminhos antigos.

Características dos filhos de Ogum

Os filhos de Ogum são muito extrovertidos e charmosos. São muito populares entre as mulheres e nem sempre é por sua beleza, mas sim, pela sensualidade e charme exacerbado que carregam. Com isso, possuem grande dificuldade em estabelecer relacionamentos sérios e não são muito adeptos à monogamia.
Ardiloso, tende a controlar seus primeiros instintos, mas perdendo sua paciência (o que não é muito difícil), é explosivo e agressivo como nenhum outro Orixá.
Teimoso e até mesmo prepotente, tende a não ouvir conselhos e sempre realiza as coisas ao seu modo. Tudo em Ogum é muito intenso.
Os homens que possuem seu Ori entregue a Ogum tendem a ser os melhores parceiros sexuais, mas não necessariamente os melhores amantes. Preferem demonstrar sua virilidade a muitas parceiras antes que o amor os prendam.
Batalhador e muito determinado, sempre cria saídas para as dificuldades próprias. Está sempre abrindo novos caminhos onde outras pessoas não vislumbram uma passagem.
Quando o ajuntó do filho de Ogum não ameniza essa intensidade, há um risco muito grande de uma vivência superficial, por isso esses filhos necessitam conhecer suas qualidades e defeitos tão acentuados afim de evitar o viver intenso de situações novas a cada dia, causando a falta de estofo, sendo consideradas assim, pessoas vazias.



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Omulu - Obaluaiyê
Sincretismo | São Lázaro |
Dia da semana | Segunda-feira |
Elementos | Terras submersas |
Domínios | Saúde |
Cores | Preto e Braco |
Plantas e ervas | Folha de Mamona, Folha de Mostarda, Picão, Jurubeba, dentre outras  |


Para entendermos o que representa Omulu - Obaluaiyê é necessário indagar o fato deste Orixá ser representado por dois nomes. Um dos entendimentos adotados é de que seria apenas um nome composto ou ainda, duas palavras com o mesmo significado, oriundas de duas nações diferentes.
A que adoto interpreta esses dois nomes com qualidades diferentes de Xampanã, advindo dos Tapas. Um bom exemplo a se utilizar seria o caso de Oxalá, que possui duas outras terminologias: Oxalufã (Oxalá velho) e Oxaguian (Oxalá novo). O mesmo aconteceria com Xampanã, Omulu (Xampanã velho) e Obaluiyaê (Xampanã novo), porém, como Xampanã representaria também a morte e a doença, acabou tornando-se um nome evitado no Candomblé, unindo-se então Omulu-Obaluiyaê.
Mesmo sendo este Orixá muito mais velho que Ossaim, quando as duas culturas se encontraram houve um choque. Ambos carregavam funções parecidas na medicina. Como de costume, cada qual se adequou a uma função. Ossaim é hoje o Orixá conhecedor das ervas e plantas, inclusive as medicinais, porém, é Omulu-Obaluiyaê o Orixá que rege sobre a cura e a doença.
Também há lendas diferentes sobre sua origem. Nanã, sua mãe o havia abandonado por não ter ter gostado de sua aparência (problemas na pele como hanseníase). Quem o adotou e o salvou foi Yemanjá. A segunda versão se refere à aparência ruim da criança por um ferimento provocado por um caranguejo, já que sua mãe o havia abandonado na praia. Yemanjá cuida da criança o adotando até os dias de hoje como seu filho. Esta segunda versão ainda sugere que seu capuz de palha da costa (aze) é obrigatório, pois o seu domínio sobre a vida e a morte lhe tornou em pura luz, sendo a irradiação e luminosidade tão intensas, que cegaria as pessoas. Diferente do entendimento de que usaria o aze para cobrir a aparência.
Em todos esses casos, temos este Orixá com os dois lados da moeda: a epidemia e a cura, a princípio com o caráter punitivo.
Hoje o podemos entender como o sacerdote que possui acesso a uma "Caixa de Pandora". Não há possibilidade de conhecer e trazer ao mundo a cura se não houver a doença. A somatização de problemas, criação, manutenção ou até mesmo a permissão de contato com energias negativas, nos desequilibra energeticamente e espiritualmente, podendo acarretar em problemas de saúde que estão em poder deste Orixá. É simples como o processo de ficar gripado. O homem que sai sem camisa, depois do banho quente na garoa de uma noite fria provavelmente encontrará o que busca.
Os filhos "protegidos" estarão muito mais "agasalhados", evitando até mesmo a gripe vinda dos ventos soprados por outras pessoas em direção a eles.
Para toda gripe há o remédio, porém infelizmente, esta última frase não nos cabe como exemplo. Como em todas as questões no Candomblé e de forma mais visível na saúde, há uma grande diferenciação na "gripe" que pode ser curada e na que não pode.
Como bem exemplifica o Babalorixá Ogí Faraungê,  se temos de carregar, como Karma, uma mochila com dez quilos de peso nas costas, não será possível nenhuma intermediação. Em algumas vezes, por muitos motivos, acabamos somatizando pesos extras. A religião, a fé e o merecimento podem ajudar a aliviar a caminhada do indivíduo retirando exatamente esse peso extra e posteriormente, auxiliar que esse filho não coloque mais pedras na mochila. Há casos onde o necessário para sua caminhada são cem quilos. Este fardo foi escolhido pelo próprio filho a carregar nesta encarnação e ele precisará carregá-lo sozinho.
Esse entendimento clareia muito a questão da doença advinda da "Caixa de Pandora" de Omulu-Obaluiyaê exemplificada acima. Tudo está ligado à evolução da pessoa e no seu Karma, bem descrito no espiritismo.

Características dos filhos(as) de Santo de Omulu-Obaluiyaê

Na dramaturgia, o grande autor parisiense Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière, retrata muito em suas obras o estereótipo desses filhos. "O Doente Imaginário" é uma excelente leitura para aqueles que queiram se aprofundar no conhecimento dessas características.
Sempre reclamando da vida, por vezes até hipocondríacos, esses filhos nunca estão contentes com nada.
Nisso também se vê o lado benéfico do arquétipo. São filhos capazes de carregar uma enorme somatização de problemas psicológicos. Essa amargura que carrega não é com os outros, mas consigo mesmo, entendendo que tudo que lhe acontece seja até mesmo por algum tipo de punição.
Gostam de ficar sozinhos. Podem até se relacionar com muitas pessoas, porém, acaba sendo superficial nesses relacionamentos, preferindo se recolher no próprio aze!
Embora muitas vezes se mostrem depressivos e pessimistas, são pessoas capazes de tirar a própria roupa do corpo para ajudar o próximo. 



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Ossaim
Sincretismo | Santo Expedito, São Roque ou São Benedito; dentre outros |
Dia da semana | Quinta-Feira |
Elementos | Folhas e Ervas |
Domínios | Medicina e Liturgia |
Cores | Verde e Branco |
Plantas e ervas | Lágrima de Nossa Senhora, Amendoim, Gitó-carrapeta, Comigo Ninguém Pode, dentre outras |


Em meados da década de sessenta, o grande poeta Vinicius de Moraes homenageia este Orixá com a música  "Canto de Ossanha":
http://www.youtube.com/watch?v=JfoeQuMPbbM&feature=related
Como muito bem descrito na obra do gênio, a magia, obscuridade, mistério e segredos fazem parte deste Orixá que recebe nomes como Ossaim, Ossânin, Ossonhe, Ossãe e a forma mais popular, Ossanha. Fato este que desencadeia o equivocado raciocínio de que seria este um Orixá feminino, já que o suposto gênero  empregado na sufixação da palavra seria o sugestionado.
Ossaim é Orixá masculino. Em sua sexualidade, pouco se fala, pois é muito mais reservado a si e seus constantes estudos do que a aventuras sexuais. Sabe-se apenas de seu envolvimento com Iansã e posteriormente com Oxossi.
Este é o grande Mago Merlim, em todas as suas atribuições. Reservado e litúrgico, está sempre entranhado às matas suas e de Oxossi.
Embora esteja ausente na maioria dos acontecimentos entre os Orixás, vez que enquanto guerreiam, discutem, se amam, ele trabalha minunciosamente; é o Orixá mais presente no Candomblé. Essa controvérsia se faz pelo fato de ser o dono do Axé e do conhecimento mágico das folhas e ervas. Um dia já foi dono de todas, porém, como manipulava seu conhecimento sem dividi-lo com os outros Orixás, causou desconforto no panteão, pois poderia passar a manipulá-los em troca de seus favores litúrgicos. Iansã, com quem se relacionava, pediu-lhe que dividisse seus segredos, assim como com todos os outros Orixás. Negando, a rainha dos ventos fez surgir um furacão que espalhou suas plantas e ervas, permitindo a divisão.
Ele deixou de ser o dono de todas as plantas, porém, continuou sendo o único Orixá conhecedor dos poderes emanados de cada uma e a forma de evocá-los, sendo necessária seu Axé a qualquer obrigação que se utilize folhas e ervas (a maioria), independente a quem se oferece a comida.
Ele é considerado protetor da maioria das artes. Principalmente do ator, músico, enxadrista, escritor e artesão. Não pelo fato do trabalho em conjunto dos atores e músicos em uma peça, muito pelo contrário. Se faz presente no trabalho exaustivo e individualista do ensaio, da lapidação, da tentativa de se estudar racionalmente o método mais eficaz de evocar o sentimento. Ossaim tem o controle absoluto sobre esta balança de Aristóteles. Ele chega a ser esta própria balança, onde o controle racional e emocional proporciona o equilíbrio.
Ossaim é a poesia, o cheiro de terra molhada; Ossaim é pura Cora Coralina.
Já foi considerado médico, mas com a junção dos cultos a ele e Omulu-Obaluiyaê, fez-se a divisão da seguinte forma: Enquanto Omulu-Obaluaiyê é responsável pela doença e pela cura, Ossaim guarda os segredos e conhecimentos da cura através da liturgia, emprestando este conhecimento a Obaluiyaê.
Além das plantas, muito pouco comentado é o fato de ter conhecimento e muita aproximação com os pássaros. É com eles que conversa em seu retiro diário. Essa representação está na haste com sete lanças que carrega, tendo um pássaro no topo delas.
Ossaim é a sensibilidade, o despojo e a concentração.  

Características dos filhos(as) de Santo de Ossaim

O amor e o sexo lhe fazem bem, mas ficam sem eles facilmente. A roupa que usam é a que lhes é mais confortável. Dificilmente opinam, já que preferem debruçar sobre o problema para que tenham a certeza e nunca um palpite.
Os filhos de Ossaim ficarão extremamente felizes se pedir a eles que resolvam situações enigmáticas. Algo que precisem de total concentração e esforço individual. Quanto mais tempo precisarem gastar para isso, mais felizes estarão. Cultos, introvertidos e caseiros, preferem uma boa leitura a uma reunião entre amigos.
Toda pessoa que o possui como eledá (primeiro santo) tem grande tendência a não encontrar afinidades com ninguém, pois estes filhos são muito raros. Historicamente se explica de maneira muito clara. Em uma região antiga, observam-se muitos guerreiros, mas pouquíssimos magos.
Com caráter extremamente justo, se fazem diferentes neste quesito aos filhos de Xangô por um único motivo: Xangô impõe a justiça e Ossaim "tem mais o que fazer".
Muito ritualísticos, são, na maioria das vezes, grandes adeptos à religiosidade. A repetição das coisas. Os antigos sacerdotes egípcios são considerados até hoje como os melhores exemplos do arquétipo de Ossaim. 


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Oxalá
Sincretismo | Jesus Cristo |
Dia da semana | Sexta-Feira |
Elementos | Atmosfera |
Domínios | Fertilidade Masculina, paz e criação |
Cores | Branco |
Plantas e ervas | Alecrim do Campo, Lírio Branco, Araçá, Barba de Velho, Camélia, Camomila, Laranjeira, Patchouli, Rosa Branca, dentre outras |


Este é o Orixá com maior influência do sincretismo e principalmente por este fato, o mais conhecido não só entre os iniciados, mas por todas as pessoas que já ouviram falar em Candomblé. Oxalá é muitas vezes chamado por Babá Igbô. Isso acontece por ter sido o rei dos Igbôs, um dos povos antigos do Candomblé. Antes disso, o panteão era matriarcal, tendo no topo da hierarquia, Nanã Buruku (ver lenda na descrição deste Orixá feminino) e foi exatamente Oxalá que "toma" o trono de Nanã (ver mesma lenda citada anteriormente), outorgando uma nova sociedade patriarcal.
Deste princípio básico extrai-se o entendimento do sincretismo a Jesus Cristo. Há outros fatos que também colaboram pra isso, como por exemplo, ser Oxalá o Orixá responsável pela criação de todos os seres. Olorum, o Deus supremo, criou Oxalá e presenteou o filho com o céu. Quando este céu se ergueu, tocou o oceano no horizonte, encontrando-se com Yemanjá. Este ato de amor gerou a maioria dos outros Orixás do panteão. Como aquele que viveu mais tempo que os seus filhos, adquire a sabedoria necessária para poder orientá-los e é sempre se baseando em situações semelhantes já ocorridas no passado que os aconselha. Os outros Orixás não o tem em classe hierárquica diferenciada, uma vez que isso não existe entre eles; mas possuem um respeito como filhos. É Oxalá que recebe o barro e esculpe os seres humanos (no Candomblé a figura de Deus - Olorum, limita-se apenas à criação inicial).
Presume-se que a etimologia da palavra tenha decorrido da seguinte forma: Obatalá, o grande Orixalá > Oxalá. Orixalá significa o orixá dos orixás.
Tudo isso faz com que a concepção do arquétipo deste orixá seja demasiadamente cristã, porém, em sua grandiosidade histórica, cultural e filosófica; o Candomblé acolhe a divindade àquilo que é mais próximo aos sentidos humanos: fontes de energias da natureza.
Responsável pela determinação de que Orixá será o dono do ori de cada filho, possui grande responsabilidade pela harmonia e equilíbrio. É sempre com a paz que rege os conflitos e quizilas entre os Orixás. Um excelente exemplo disto é a transição de fechamento e abertura de ano que se faz no Candomblé. Todo ano é regido por um Orixá como primeiro santo e um ajuntó. Caso o Orixá que fosse reger o ano seguinte tivesse quizila com o Orixá que regeu o anterior, seria impossível a "entrega" do ano de um pro outro. Por isso, quem recebe o fim do ano é Oxalá, que entrega nas mãos de quem guiará o início do próximo.
Há lendas que propiciam o entendimento de quizilas entre Exu e Oxalá, porém, essas seriam entre uma qualidade específica de cada Orixá.
Dessas qualidades de Oxalá, conhece-se muito Oxaguiãn (o jovem guerreiro) e Oxalufãn (Oxalá velho), porém existem muitas outras qualidades, como Lejugbe, Okó, Kajaprikù etc.
A ele pertence o branco, soma de todas as cores; símbolo da paz.
É saudado com Eeepà Babà (pai) por todos, inclusive os Orixás.

Características dos filhos(as) de Santo de Oxalá

Os filhos de Oxalá tendem a possuir uma grande qualidade: paciência. A calma e o altruísmo também, geralmente estão presentes nesses filhos.
Como em todos os outros casos, a personalidade desses filhos variam muito com a qualidade deste Orixá, assim como seu ajuntó.
Cautelosos, são também muito teimosos embora pareça ser esta uma situação díspar. Acontece que jamais aceita conselhos. Pode ouvi-los, mas não os segue. Preferem sempre estar apoiados em sua própria segurança utilizando-se de padrões próprios como referenciais. Com isso, tendem a não aceitar mudanças drásticas, preferindo o conforto da repetição. São desprovidos de interesses materiais e entendem que o que lhes acontece é sempre uma questão de merecimento. Ao contrário do que dizem, não são desinteressados pelo sexo, muito pelo contrário, uma vez que Oxalá é o Orixá da reprodução masculina. Apenas tratam este assunto com mais seriedade que os demais. Há valores preciosos que circundam o ato sexual para esses filhos.
Tendem a ser pessoas muito sábias, mas nem sempre estudadas. Preferem a prática, a tentativa e autodidatismo; o que em muitas vezes os afasta da originalidade, já que estão sempre repetindo o mesmo procedimento para as diferentes situações.     



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Oxossi
Sincretismo | São Sebastião |
Dia da semana | Domingo e Segunda-feira |
Elementos | Ar |
Domínios | Felicidade e ingenuidade |
Cores | Verde ou Azul (Entre azul de Yemanjá e azul de Ogum) |
Plantas e ervas | Alfazema, Goiabeira, Groselha, Capim-Limão, dentre outras |


Eis aqui o primórdio da humanidade. O pré-histórico. Odé é o Orixá primitivo que vive nas matas. Este Orixá é muito mais popular no Brasil do que na própria África, vez que era muito presente na nação de Keto que foi dizimada no século XIX pelas tropas do rei de Daomé. Os habitantes da nação de Keto se tornaram então escravos, sendo vendidos para o Brasil. Aqui houve grande identificação com o povo indígena e por isso se explica muito bem se estereótipo indígena.
Oxóssi tem a garra, força e virilidade de seu irmão Ogum, mas essa energia é canalizada em outras virtudes. Não é na guerra, na explosão violenta ou na sexualidade como Ogum, mas sim, na sapiência e destreza de caçador.
Dizem que ele não ouviu sua mãe (Yemanjá) e acabou caindo nos encantamentos de seu outro irmão, Ossaim, então sendo atraído pelas matas. Há muitas versões desta lenda, mas o mais interessante aqui é o apontamento para informação principal: Oxóssi não é descuidado, mas sofre por acreditar piamente no próximo.
Em uma das suas diversas lendas, diz que sua origem se deriva de uma festa, onde estavam todos os habitantes da nação. Em determinado momento, uma grande ave passou a sobrevoar o vilarejo, evitando assim que a claridade do dia lhes fosse concedida. O sinal de mal presságio precisava ser desfeito, então o rei ordenou que seus principais caçadores eliminassem a ave. Oxotogun, o caçador das vinte flechas não obteve sucesso em nenhuma das suas tentativas. O fracasso também se repetiu com o grande arqueiro Oxotogi (arqueiro das quarenta flechas) mesmo com tamanha profusão numérica de flechas. Oxotôkanxoxô, o arqueiro de apenas uma flecha e sua mãe, consultaram um Babalaô que lhes informou sobre a oferenda necessária às divindades. Assim o fizeram. O arqueiro, silenciosamente, observou a ave por longos minutos. Contraiu a musculatura, ergueu o arco e permaneceu parado sem movimentar sequer um músculo. Quando descobriu o ponto fraco do inimigo, com uma única flecha, a lançou de forma rápida e certeira.
Desta lenda muita coisa se compreende a respeito deste Orixá.
Ossaim e Ogum utilizam-se da mata com outros valores. Enquanto a solidão de Ossaim é derivada de sua necessidade de concentração para utilização de seu ofício, a liturgia; Oxossi tem um isolamento mais espiritual. É a busca pelo auto-controle que lhe deixa quieto. Enquanto Ogum destrói as matas em beneficio de suas conquistas territoriais, aberturas de novos caminhos e evolução tecnológica, Oxossi apenas caça para seu sustento. Oxossi é o protetor da caça e do caçador. Entende a necessidade da cadeia alimentar e é só o que respeita. É contra a caça desenfreada e desnecessária.
Ao contrário do pensamento lógico, Oxóssi não representa a agricultura. Esta atividade foi de Nanã a princípio, sendo posteriormente repassada a Orixás mais novos. O dono da mata está naquilo que é fornecido sem a mão do homem. O plantio é um estado evolucionário posterior a esse Orixá. Os animais de seu domínio são apenas os animais de patas, sejam elas quantas forem. A cobra por exemplo, além de não estar sobre sua proteção e seu domínio é um animal com grandes quizilas com este caçador. (Ver lenda de Oxumaré e Oxossi neste mesmo blog).
Oxóssi, referente à sexualidade, é o equilíbrio entre a falta de necessidade de Ossaim e o desejo desenfreado de Ogum. Dentre alguns relacionamentos mencionados no panteão o que mais se marcou foi com Oxum, com quem teve Logunedé como filho. Mais precisamente Odé (Oxossi) na qualidade de Bitalá Inlé, casado com Oxum Pandá. Porém, sua exacerbada necessidade de liberdade não o permite criar laços e raízes. (Ler sobre Logunedé neste mesmo tópico).

Características dos filhos(as) de Santo de Oxóssi. 

A tendência física destes filhos está na agilidade. Estão sempre embasados, em tudo o que fazem, na sua forte necessidade de independência e rompimento de laços, sejam eles quais forem. O gosto por ficar calado, pensativo é o que lhes dá a destreza da concentração e da observação. Costumeiramente reservado, prefere não emitir suas opiniões sobre assuntos e casos alheios, assim como seu irmão Ossaim. Não gostam de fazer julgamentos sobre os outros e consequentemente odeia que o façam também. Não por ego como na maioria das vezes entendem, mas apenas por não gostar de intrusões humanas. Mande esse filho acampar uma semana em uma mata fechada com uma faca e um quilo de sal e ele estará literalmente em casa. Prefere o suburbano e a retidão do que a evolução humana inconsequente e sem valores. 
Detentores de grandes princípios, são excelentes cônjuges, uma vez que se resolve contrair uma união, dificilmente seria capaz de desfazer esta família. Pode parecer contraditório a princípio, vez que os filhos deste Orixá estão sempre prezando pela liberdade, porém, é na família que se reconhece e faz dela sua moradia. Para a mata segura (pra ele) e quieta que ele fica em paz. Isso, claro, desde que sua liberdade não seja privada. Se apertar demais um filho de Oxóssi ele corre antes de explodir. 
Muitos responsáveis, são determinados em garantir o sustento da família, mas não são ambiciosos. A fartura que lhes é indispensável é a dos valores morais, alimentos e construções sólidas de vivências. Oxóssi só caça o que vai comer. Se comem muito, que se traga muito para casa, porém, nada a mais que isso. Jamais caçaria um segundo bicho vislumbrando o lucro que lhe traria.
A dificuldade em se relacionar com outras pessoas é de fácil entendimento, porém, se cativar a confiança desta pessoa, tenha uma de suas maiores amizades nele. 
Os filhos de Oxóssi são, geralmente, muito charmosos. Longe dos filhos mais encorpados de Xangô e nem tão musculosos como os filhos de Ogum, definem-se na maioria das vezes por seus corpos esguios e magros. Uma magreza forte e determinada. Corpo firme e ágil. 
Longe do entendimento geral, não são filhos "bichos do mato". São também vaidosos e requintados. A simplicidade que carrega está na alma e não no corpo.


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Oxum
Sincretismo | Nossa Senhora da Conceição |
Dia da semana | Sábado |
Elementos | Água doce |
Domínios | Riqueza, sensualidade, amor, gestação, maternidade |
Cores | Amarelo ouro |
Plantas e ervas | Erva Cidreira, Ipê Amarelo, Gengibre, Palmas Amarelas, Chuva de Ouro, dentre outras |


Delicadeza definiria integralmente este Orixá feminino. Dessa característica desdobram-se todas as outras. É o tema principal de todas as suas lendas e arquétipo.
De aguçada inteligência, é astuta o suficiente para preferir a diplomacia à guerra. Apesar de ter qualidades de santo guerreiras (Oxum Apará, a mais guerreira, por exemplo), prefere fazer-se de frágil e dócil. Fez Xangô carregar seu pai (Oxalá) nas costas no dia de seu casamento. Casada com Xangô e amante de Ogum, fez com que o marido a salvasse da profundidade do rio em que se afogava. Literalmente dá nó em pingo d'água. A leveza de sua correnteza desvia-se da grande e poderosa rocha que está no seu caminho evitando confrontá-la e admitindo sua superioridade. Enquanto admite essa superioridade, dia a dia, desgasta a rocha, que quando perceber, será tarde demais. Estará em pura erosão.
A mais bela e sensual de todas as outras, desfere inveja às outras mulheres do panteão africano.
Sua sensualidade é devastadora e perigosa.
Oxum é ardilosa. Possui o principal "odum" de fala. Da fofoca à boa lábia.
Suas cores acompanham a vaidade.
Muito antigamente, ainda restrito ao panteão africano, sua cor era o cobre (cor hoje concedida a uma qualidade de Iansã), uma vez que era o metal mais valioso. No Brasil, foi sempre associada ao amarelo, cor do ouro. Às jóias e a tudo que for valioso. Oxum é vaidosa ao extremo, tanto por vontade de se agradar quanto chamar a atenção.
Na sua posição materna é protetora da gestação. Assim como Oxalá (referente aos homens), é responsável pela fertilidade, só que especificamente feminina.
Há três mães: Oxum, Yemanjá e Nanã. Como de costume, variações de filosofias e entendimentos.
A que me atenho é a de que Oxum é a mãe protetora da criança (que ainda não possui eledá e nem ajuntó, só os terão em sua transição - cerca de 6 a 8 anos de idade) desde a gestação até o momento em que a criança passa a desenvolver a fala. Caso a criança tenha deficiência na fala, será caracterizada pelos desenvolvimentos motores finos. Neste momento então, a criança passa a ter como mãe Yemanjá, que a entrega nos braços de Nanã no momento de seu desencarne. Ou seja, as outras duas mães passam muito mais tempo nos abraçando: Yemanjá por todo o restante da vida e Nanã, na vida em outro plano, porém, Oxum está presente nos nossos primeiros passos, nos recebendo a esta vida e acalentando no útero materno.
É doce e angelical com as crianças como nenhuma das outras.
Oxum é a energia das cachoeiras e rios. Há o entendimento de que quanto mais superficial se analisar, mais se encontrarão as qualidades de santo amáveis de Oxum. Quanto mais profundo procurar, mais as qualidades guerreiras estarão. Oxum possui 16 qualidades de santo, mas de Oxum Obotó (a mais suave e feminina) à Ipondá, Kerê e Apará, (as mais guerreiras), em todas sempre encontrará a meiguice feminina.
A Oxum também está ligado o sexo. Não desenfreado e intenso como o de Iansã (mas não inferior), mas sensual e romântico.
É o Orixá responsável pelo amor. Amor a tudo. Se há o amor no trabalho ela rege sobre as características de Xangô. Se há o amor ao dinheiro, está regendo com Exú.
Há Babalaôs que entendem ser ela a protetora das Artes. Eu especifico que ela está na arte requintada. Peças e obras de arte caras e luxuosas. Não a arte de Xangô ou Ossaim.
Aos amantes e sonhadores, que tenham sua Oxum sempre presente.

Características dos filhos(as) de Santo de Oxum. 

O arquétipo deste Orixá acaba confundindo os leigos ao interpretarem que as filhas deste Orixá seriam pessoas quietas, delicadas demais ou até mesmo frágeis. Engano! Essas pessoas, muito provavelmente terão como eledá Ewá (ler a descrição deste Orixá).
Para podermos vislumbrar essas características, darei um exemplo muito utilizado no Candomblé quando se tenta explicar sobre as filhas e filhos de Oxum.
Nosso falecido Presidente da República Tancredo Neves sempre foi apontado como filho de Oxum. (Situação um pouco rara). Essa situação sempre ocorreu pela sua maneira de governar: cheio de meandros, conciliações, confabulações e intenso trabalho de bastidor. Sempre disfarçado por uma aparência tranquila, escondia muita ironia e inteligência rápida.
Essa ardilosidade pode ser qualidade ou defeito, dependendo de como usada.
As pessoas regidas sobre essa energia têm o Axé do dinheiro e riqueza, porém, não estão garantidos financeiramente. Este Axé é muito melhor empregado quando se casam com alguém que possuem um Orixá de frente como Ogum, Iansã ou Exú. Esses três são batalhadores e com o Axé de Oxum da pessoa que contraem união (Os eledás e ajuntós trabalham em conjunto no casal) conseguirão a riqueza desejada.
Oxum gasta mais do que ganha. Fala mais do que faz. Está sempre fadada ao narcisismo e a falta de controle sobre ele pode levá-la a grandes depressões.
O estereótipo perfeito de quem a tem como dona do Ori seria o de pessoas gordinhas sorridentes, porém, muito dificilmente encontrará esses(as) filhos(as) acima do peso, pois a vaidade não lhes falta.
Sofrem de amor muito mais do que as outras pessoas e são extremamente dependentes dele. Quando amam e são amados são felizes no restante. Agora, se lhes faltam o amor, nada na vida lhes faz sentido.



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Oxumarê
Sincretismo | São Bartolomeu |
Dia da semana | Terça-feira|
Elementos | Ar e terra |
Domínios | Movimentação e ciclos |
Cores | Todas as cores do Arco-Íris; amarelo e verde |
Plantas e ervas | Graviola, Ingá-bravo, Cavalinha, Palmeira, etc. |


Em 133 a.c., o grande império Romano invadiu e conquistou a Grécia. Como em todas as suas outras conquistas territoriais, teria o ensejo de dominar aquela civilização não só militarmente, mas principalmente, culturalmente. Impor sua língua, seu hábitos, religião, mitologias e costumes. Mas bem se sabe que não foi assim que ocorreu. Roma declinou-se, pela primeira vez a um inimigo. Grécia era tão rica e coesa em sua cultura que o romano acabou bebendo desta fonte. Foi dominado por tamanha beleza e maestria de uma civilização que nos serve de referência até hoje. A conquista aqui foi contrária...
O mesmo aconteceu com a conquista territorial dos Yourubás aos Daomeanos. Conquistaram o espaço geográfico através da força, mas entregaram-se à sua cultura e divindades. Daí temos a inserção de Orixás como Oxumarê, Iroko, Omulu, Obaluiyaê e Nanã Buruku.
Acontece que quando essa "miscigenação" de culturas ocorre, os Yourubás não possuem o discernimento de apenas assimilá-la. Tentam encaixá-la em sua própria maneira de contar as histórias. Isso é muito presente nas lendas de Oxalá e Nanã; onde o controle matriarcal de uma civilização (Daomeanos) deve ceder ao controle patriarcal dos Yourubás.
Este contexto histórico permeia toda a origem, entendimento e descrição de Oxumarê.
Este Orixá é um dos mais ricos em sua mitologia e símbolos, sendo portanto, completamente impossível uma assimilação idêntica por mais de uma cultura. Muitos contextos sociais e religiosos permeiam sua mutação durante todo esse longo período histórico; do seu nascimento aos dias atuais.
Em uma de suas lendas mais antigas e talvez muito pouco contaminada, dizia que Oxumarê era um Babalaô antes de se tornar um Orixá. Carregava consigo o dom da leitura do Ifá, sendo então um Babalorixá, mais espeficamente. A continuidade da lenda talvez tenha bastante influência, então nos atenhamos a este fato. Oxumarê está ligado ao místico, sobrenatural e mistério. Se tornou Orixá, pois suas previsões claras faziam mal à humanidade, pois não possuíam segurança e evolução suficiente para lidarem com as previsões do destino. Então Oxumarê foi distanciado dos homens. Desceria à terra de três em três anos para poder auxiliar pessoas com sua mediunidade. Este é o princípio filosófico que desencadeia uma série de observações a este Orixá. Observemos atentamente que sua divisão de vivência entre a terra e o ar esta ligada à evolução espiritual. Tanto a dele próprio, quanto daqueles que precisam dele. Isso posteriormente é representado por sua divisão entre o Arco-Íris e a Cobra. Durante seis meses está ligado ao espaço, às situações espirituais e nos outros seis meses à terra, na forma que mais se tem contato com ela: a cobra. Não possui pernas e então está fadada a estar entregue de forma inteira com seu corpo no contato com o chão.
Há aqui o conceito primordial de seu arquétipo: a dualidade HUMANA. A ligação com a vida terrena e o plano espiritual, por exemplo. A ligação do homem com sua religião. Oxumarê está ligado diretamente ao corpo humano através da contante renovação de suas células. Elas morrem e nascem diuturnamente, independente de qualquer coisa. Este ciclo tem sua mitologia no constante andar da cobra, que pode morder o próprio rabo e girar em sentido cíclico eternamente.
Esta renovação é muito diferente da renovação de Oxaguiãn, por exemplo. Não é a destruição do ruim para construção do melhor, mas sim, o andar contante do destino. O linear de seu irmão Iroko, representado pelo destino e Karma da vida tem a vibração necessária de Oxumarê para que tenha continuidade.
Prendo-me a este esclarecimento puramente filosófico para que não nos contaminemos com as lendas contraditórias e suas entranhas políticas e religiosas.
Isso ocorre, muito claramente, quando os jesuítas, por exemplo, em sua missão de catequização fazem a ligação direta ao mal que o animal peçonhento representa na Gênesis. Hoje temos muito forte a definição da dualidade entre bem e mal, certo e errado em Oxumarê. Este bem e mal, Deus e demônio, são conceitos muito mais novos que o Candomblé. Em nossa religião não há certo ou errado, não há julgamento e muito menos preconceitos. Embora o castigo fosse presente nestes Orixás Daomeanos, eram de forma completamente diferente do contexto ocidental.
Há grandes complicações também referente ao sexo de Oxumarê. Se é masculino, se é feminino, se é seis meses homem e seis meses mulher. Pesquisadores, iniciantes e até mesmo Babalaôs possuem opiniões completamente divergentes.
Em meu entendimento, apenas uma palavra é capaz de responder a todos os anseios de uma só vez: androginia. É um Oríxá com os dois sexos nele mesmo ao mesmo tempo. Seja enquanto é a energia do arco-íris, que nos remete ao constante processo do nascimento das chuvas: é no vapor da água que sua beleza é observada e posteriormente se ocorre a liquefação, firmando-se o cíclico. É enquanto leva a água ao castelo de Xangô que podemos observar sua graça feminina. Depois, quando torna-se cobra, ou o "monstro", carrega seu perfil masculino; porém, será sempre essa junção literária de "A Bela e a Fera". Não há aqui a divisão de gêneros, mas sim, a dualidade constante de sua homogenização. O claro e o escuro do Barroco, o bonito que lhe parece feio e o feio que lhe parece bonito; necessidade de escolhas, mudanças, alterações. Novos ciclos. Isto é do homem no seu perfil psicológico. Todo homem carrega em si a mulher e vice-versa e isso não altera sua sexualidade. Orientação sexual não está ligada às escolhas racionais do ser humano, mas de seus sentimentos e desejos.
Ainda preso a esta linha de raciocínio saliento a diferença sólida em se ter este Orixá como patrono dos bissexuais ou homossexuais e o fato das pessoas com orientações sexuais diferentes ao heterossexualismo serem proeminentemente filhos(as) deste Orixá.
Uma outra confusão acentuada que se faz no Candomblé é a de que Oxumarê seria uma qualidade de Oxum. Essa errônea afirmação se faz por três principais motivos. O primeiro pela nomenclatura: Oxum>Oxumarê. O segundo pelo local de entrega de suas oferendas. A Oxumarê se entregam as obrigações em rios ou cachoeiras, uma vez que está aí representada a água que em estado físico alterado se faz o arco-íris. É muito comum, em dias ensolarados, se observar esse fenômeno nas gotículas que se espalham pelo ar, quando forma-se a queda d'água. Portanto, não é à água doce de Oxum que se entregam as obrigações de Oxumarê, mas sim, ao local de nascimento do arco-íris. O terceiro motivo é o de que na Umbanda, religião completamente diferente do Candomblé, há o entendimento de que se trata do mesmo Orixá. Confesso que conheço muito pouco desta outra religião e como o foco é o esclarecimento pertinente ao Candomblé, me atenho ao firme esclarecimento que são dois Orixás completamente diferentes.
Este tema é tão controverso que até mesmo a manifestação de sua representação não tem um denominador comum. Muitos pesquisadores e Babalaôs têm o entendimento de que a representação masculina está na cobra e tantos outros, no arco-íris. O que me faz recorrer à esta linha de entendimento (de que sua representação masculina está na cobra) é uma das mais antigas lendas sobre sua dualidade sentimental. Enquanto arco-íris, era a moça chamada Bessém, que arrumava namorados, mas quando se transformava em cobra ("monstro"), fazia com que eles corressem. A este fato revoltava-se e colocava a culpa em sua mãe, Nanã Buruku. Entendia que essa mutação era um "castigo" dos deuses, uma vez que o primeiro filho de Nanã (Omulu), foi rejeitado por ela mesma na areia e criado por Yemanjá. Nasce daí então a quizila entre Nanã e Oxumarê.
É dito que a Oxumarê deve-se sempre ter comida, pois se um dia morrer, o mundo pára e com ele também morre. Esta é a principal energia a que devemos nos remeter quando pensarmos nessa dualidade. O ciclo eterno e etéreo da terra.
Se não fosse este o Orixá complexo e eu não encontrasse dificuldade em dissertar sobre ele, não seria Oxumarê; pois sua dualidade que rege o mundo e o homem, está presente nas opiniões divergentes, nas indagações e no constante desenvolvimento do homem e do mundo.
   

Características dos filhos de Oxumarê

Por mais redundante que se parece a palavra dualidade neste tópico, ela sempre se fará necessária. Pessoas com dificuldade de aceitação, com necessidade de constante mudanças; estarão muito próximas ao arquétipo de Oxumarê. Tudo novo sempre: trabalho novo, relacionamento novo, estilo de vida novo e por aí vai. A casa destes filhos nunca será igual. Móveis alterados de seus lugares sempre, com pessoas diferentes sempre. De humor completamente instável e imprevisível, quem tem como primeiro santo este Orixá terá muita dificuldade em firmar amizades. O preconceito não lhes pertencem. Conseguem entender e apreciar tanto o alto quanto o baixo, de forma igualitária. Se homens, terão sempre a delicadeza e sensibilidade feminina consigo (não necessariamente a feminilidade). Se mulheres, o jeito prático e racional do homem, como adição às suas qualidades.  


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Xangô
Sincretismo | São João Batista |
Dia da semana | Quarta-feira |
Elementos | Fogo (Chamas altas), Raios e Rochas |
Domínios | Poder, trabalho e justiça |
Cores | Vermelho e Branco |
Plantas e ervas | Alfavaca Roxa, Erva de São João, Morangueiro, Musgo sobre as rochas, Noz Moscada, Pessegueiro, Taioba, Urucum, dentre outras  |



Há poucas divergências sobre as informações referentes a este Orixá. Isso ocorre pelo fato de ser muito cultuado e conhecido no Brasil, principalmente nas regiões norte e nordeste do país. Nessas regiões, por terem recebido escravos em grande número das nações de Xangô, denominam a própria religião do candomblé pelo nome do Orixá. Xangô é então, sinônimo de candomblé.

O rei do panteão africano, marido de Obá, Iansã e Oxum. O homem maduro. Mais velho que os jovens Ogum, Oxóssi, dentre outros. É o homem com seus 40 anos, já equilibrado e moldado à tempestividade juvenil.
Em alguns casos o fato de ter a posição de rei na mitologia africana, dá o entendimento de um grau hierárquico diferenciado, o que não é correto. Ele ocupa esta posição como aquele que está atrás da mesa no julgamento. Como justo e coerente e não como superior aos outros.
Ele possui o poder que lhe é característico não pelo autoritarismo ou a repressão, mas sim, por sua credibilidade. A justiça deste Orixá está no instrumento que carrega consigo: o machado que corta para os dois lados. Não interessa a quem doa, justiça de Xangô será sempre justa.
Na mitologia grega será revestido de Zeus. Isto pela justiça aplicada, pelos raios preferidos e não pela postura hierárquica, como já foi dito.
Possui uma das quizilas mais conhecidas no panteão africano: com Ogum. Tudo ao fato da disputa do amor de Iansã, que antes era esposa de Ogum, depois tornou-se de Xangô e posteriormente ficou com os dois. Casada com Xangô e amante de Ogum. Ambos se sentiram traídos e passaram todo o tempo brigando entre si pela atenção da jovem guerreira.
É senhor de muitas mulheres. Suas lendas estão sempre repletas de conquistas amorosas e bravuras. Situações muito características aos reis déspotas. Apesar de incongruente, o despotismo anda ao lado de Xangô quando o assunto se refere especificamente a ele.
Os eguns ou quaisquer outras coisas que estejam ligadas à morte estão muito distantes do gosto deste Orixá. Não por ser um assunto que apenas não aprecie, mas pelo pavor que possui sobre este tema. Tanto que quando recebeu seus poderes e deveria retirá-los com os eguns, o medo não lhe permite, tomando frente então, sua esposa Iansã (detentora do poder de comunicação com os eguns). Esta foi de encontro a eles, recebeu os poderes e entregou a Xangô, que os dividiu com ela. Ele ficou com o domínio dos raios e ela, dos ventos e trovões.
Este medo é tão intenso em Xangô que em alguns casos, os filhos que possuem este Orixá como “primeiro santo”, são abandonados por ele no momento de sua morte, tomando frente Iansã para essa transição e posteriormente entregando este filho a Iroko, que o encaminhará à Nanã Buruku.

Características dos filhos de Xangô

A falta de vitalidade e agilidade dos jovens Ogum ou Oxóssi traz a esses filhos a estabilidade adulta. Prezam pelo comodismo e autoritarismo. Se portam sempre como detentores do julgamento. Como o Orixá que é detentor da justiça e tudo o que está ligado à burocracia, os filhos estarão quase sempre ligados a essas áreas. Facilmente terão sucesso em carreiras profissionais ligadas ao poder. Isso lhes é peculiar uma vez que não possui o pavio curto de Iansã ou Ogum, mas é enérgico em suas decisões. Ele possui mais destreza e cautela, pois errar e praticar a injustiça não lhe cabe.
São grandes amantes do sexo, mas o possui em segundo plano. São mais reservados que os Orixás sexuais Ogum e iansã (que possuem o sexo em primeiro plano).
De tudo, uma grande dualidade nestes filhos ressalta aos olhos: Apesar de muito inseguros em suas próprias decisões, possuem extrema segurança quando o assunto a ser tratado é de outra pessoa. Estão sempre na postura de reis, olhando de cima para baixo e batendo de frente quando a situação não lhes agrada. Para estes, os fins que acharem ideais sempre justificarão os meios.
Xangô é o protetor os artistas em geral. Uma grande figura no cenário brasileiro que era filhode Xangô foi Vinicius de Moraes.
Quando os filhos seguem pela área do “Capitão do Mato” (V. de Moraes), tendem a proferir a crítica sem pudores, interpretando o instrumento artístico como ferramenta sócio-política.
Os filhos deste Orixá são como o elemento em que ele rege: a rocha bruta. Não a sedimentada, mas aquela firme que não se move. A de opinião própria e determinada. Aquela que faça chuva ou Sol, estará sempre no mesmo lugar, resistindo bilhões e bilhões de anos às suas erosões, sempre com a mesma opinião.


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Yemanjá
Sincretismo | Nossa Senhora dos Navegantes |
Dia da semana | Sábado |
Elementos | Água salgada |
Domínios | Maternidade e Educação |
Cores | Azul claro e branco, prata ou vidro transparente (para fio de contas) |
Plantas e ervas | Musgo marinho, Jequitibá Rosa, Pata de Vaca, Alcaparreira, dentre outras |

A "mãe dos filhos peixes", ou Yemanjá é uma das figuras do candomblé que mais possui aceitação e carisma fora da religião. Sua sincretização é bastante controversa, mas em todos os casos, está relacionada a figuras de extrema importância na construção católica, vindo daí a maior aceitação, assim como Oxalá. Ela é relacionada à Nossa Senhora. Neste caso acontece da mesma forma que Cristo, já que Nossa Senhora teria uma classe hierárquica diferenciada entre as santidades da Igreja. 
Este Orixá feminino é mãe de, exceto Logunedé, todos os outros Orixás Iourubás. É a grande esposa de Oxalá. Este fato explica muita coisa a respeito da adoração que se tem por ela. 
Há lendas mais profundas e históricas a respeito de seu nascimento e transformação em Orixá, como o fato de ser filha de Olokin (Deus para os Daomeanos) e/ou Olokun (Deusa em Ifé), sua mãe. Observando-se a nomenclatura quase que idênctica, podemos entender que as lendas contadas em diferentes nações, eram alteradas por contextos sociais e políticos pelas tribos do panteão africano. Aparece casada pela primeira vez com Orunmilá (senhor das adivinhações) e depois com o rei de Ifé. Diz a lenda que ela foge desta região, ingressando então em outras lendas de povoados diferentes. (Domínios territoriais).
Independente da corrente filosófica que adotemos, sempre ela terá seu arquétipo muito ligado ao de Oxalá. A paz, ausência de conflitos e passividade lhe são também peculiares.
Yemanjá é muito diferente dos outros Orixás que regem no costume Iourubá. Sua passividade é diferenciada em um contexto repleto de guerras, decisões políticas, magia e controle sobre a força da natureza. Ela distancia-se disso ficando apenas em casa, cuidando da família. É, em tempo integral, mãe e esposa. 
Na África, sua origem é dada a um rio, com seu nome, que corre para o mar. Deste entendimento que consideramos sua morada não só o mar e oceano, mas também todo "braço de mar", mesmo sendo essa água doce. Em geral, tem-se o costume de dizer que ela é mãe de todas as águas, invadindo assim o território de Oxum. Isso é dito de forma equivocada. Acontece que muitos confundem, misturam e transformam em uma só figura Yemanjá e Oxum. Muitas coisas são parecidas entre as duas. O mês em que as festejam, o dom maternal, a vaidade feminina, etc. 
Oxum é a mãe geradora da vida. Guarda a fertilidade feminina e seu ventre. Olha pela criança até o momento em que começa a se apresentar seus desenvolvimentos motores, como a fala, por exemplo. A partir deste momento, rege Yemanjá e assim continua até o último segundo em que nos encontramos encarnados. A partir deste momento, nossa mãe passa a ser Nanã Buruku, que nos guardará na outra vida. 
Yemanjá gosta das jóias, do conforto, da beleza, mas não necessariamente da riqueza de Oxum. Tem o "Odum" de fala como Oxum, mas em outro sentido. Ela não chega a ter a capacidade de convencimento bom ou mau de Oxum. Não é tão ardilosa. É mais simples. Suas filhas por exemplo, se não forem abastadas financeiramente, serão sempre criativas na sua vestimenta e casa. As filhas de Oxum, viverão em grande depressão por não ter dinheiro para comprar as jóias. Semi-jóias não lhe são bem vindas.
Yemanjá não possui "confusões" propriamente ditas com os outros Orixás, como se é de costume. Por ser muito mais passional, não cria inveja e quizila como a própria Oxum. 
Porém, há dois casos que são interessantes o suficiente para serem citados. 
Ossaim foi o filho renegado. Foi para as matas trabalhar em seu silêncio e em sua liturgia. Posteriormente consegue convencer o irmão Oxossi a ir dividir com ele a morada. Yemanjá, apesar de muito tentar impedir, não obtém sucesso. Este abandono a entristece muito, uma vez que possuía grande afeição por este filho. De tanta tristeza chora e se derrete em suas lágrimas salgadas, que transformam-se no mar.
Daqui percebemos os "índícios" que pontuam o sofrimento relacionado no convívio dos filhos destes Orixás. Apesar desta situação, não chegamos a considerar quizila o que eles têm entre eles.
A segunda situação e aí sim mais abrupta, é a relação entre ela e Nanã Buruku. Antes das conquistas Iourubás, Nanã era a grande mãe. Da gestação à vida eterna. Era soberana e possuía um patamar diferente dos demais (ver sobre Nanã Buruku neste mesmo tópico e sua lenda com Oxaguiãn). Com a vinda de Yemanjá, Nanã tem sua posição diminuída ao cargo de avó, ou de mãe após a vida. 
Há diversas lendas que narram tentativas de Nanã em enfrentá-la, mas a passionalidade de Yemanjá faz com que se resguarde e evite maiores atritos. Porém, filhas de Nanã e Yemanjá terão sempre a disputa por um lugar ou uma situação, sem ao menos acharem o objetivo final importante. Apenas disputam. 
Yemanjá é nossa grande mãe e nos guarda em todas as situações. Nos abraça, nos conforta. Não é a toa que quando estamos precisando de boas energias, recorremos ao seu lar. O banho de mar que carrega sua energia em toda plenitude nos refaz, nos renova e transmite a energia de colo de mãe.


Características dos filhos de Yemanjá


As (os) filhas (os) deste Orixá estarão sempre dentro de casa. São os cancerianos do Zodíaco. Elas são as "Mulheres de Atenas". Carinhosas e atenciosas, estão sempre gerando conforto e estabilidade para os seus. Abrem mão de tudo aquilo que podem abrir para ver o lar sorridente. Apesar de muito bem intencionadas, costumeiramente interferem de forma errônea na educação de seus filhos. Os protege demais, tendo grande dificuldade em liberta-se disso. Assim, acaba prejudicando o desenvolvimento dos seus por cuidado em demasia. Também será fácil encontrar a identificação de relacionamentos conjugais onde essa tratará o marido mais como filho do que propriamente dito como marido.
Em geral são excelentes cozinheiras, principalmente por terem esta ação como um grande ofício. Sua docilidade é quase sempre confundida com lerdeza. A tem como boba em diversas vezes, mas ela continua sendo doce mesmo após essa constatação. Porém, mesmo com essa capacidade enorme de perdoar, se isso se repete o suficiente para que ela se magoe, não haverá volta. Carregará esse rancor por toda sua eternidade.
Com tendência a obesidade, vez que esses filhos serão, geralmente, adeptos à preguiça, correm riscos até mesmo de saúde, vez que para piorar, são apreciadores de uma boa comida.
São desconfiados por demasia. Sabem que são muitas vezes tachados de pessoas ingênuas e então a vida lhes caleja. Porém, quando confiam, raramente erram. Possuem um "6º sentido" muito aguçado.
Se o ajuntó de seu filho não for representado por algum Orixá mais "ativo" ou "enérgico", podem se tornar maravilhosas ostras presas eternamente no seu habitat. 

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